quarta-feira, 1 de abril de 2020

Corpo de dor




Em chama arde o mudo e ausente rosto
Sozinho grita anônimo no escuro
O infuso amor no abismo sepulto.

Nesse existir anômalo e oposto
Orbita o mudo afeto e atrás o vulto
Do ser que permanece nascituro.

Vibra esse reino infuso em sua ermida
Na era pré-verbal em dor tristonha;
Ao nada que de si se lhe aponha
Cobre-lhe o pó das águas refletidas;

A dor fetal engendra a voz fendida
Na imagem que a palavra dentro sonha
Rasgasse a teia breu de sua fronha
Visse ao avesso as vísceras da vida.

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