quinta-feira, 8 de julho de 2021

Contemplação da Lua

Lua acima do Fórum João Mendes

Levita soberana sobre a cidade

 

Como moeda antiga exibe esfinge

dourado disco entre as relíquias do céu

 

A tarde

vai se vestindo nos véus da noite

 

No meio tom entre luz e trevas

a Lua suspende sua alegoria

olha a praça olha os homens

olha o seu rio revolto

 

Os carros zurram ferozes

os homens se amontoam

a fumaça sobe

as árvores desfolhadas esgalham-se em desespero

e o mais é um entardecimento em vestimentas noturnas

 

A Lua em indiferença de Lua

parece dizer do seu leito no céu

— que inferno é esse a executar-se lá embaixo?

pobres ridículos esses que tumultuam assim a tarde

 

Dá maior lume à sua cara de moeda

e volta a luminar o reino dos céus



                                                                Vilma Silva


 

Passagem


Trota o cavalo alado nas alas do Sul
No oeste o abril se fez carmim e no aqui sou
Apenas asas caladas no aéreo azul
E já a hora declina e exaure o seu voo;
 
Triste hora que me esboça em mudo marfim:
Acena ao longe o eu que ainda não nasceu
Afogado chora o longo estado sem fim
Do ser que ainda não lavrou seu camafeu...
 
Por que chora esse eu o falto adorno seu
Se a beleza que traz sepulta em manto brim
No eu de ontem se faz hoje em outro eu?
 
Dança o cavalo alado sobre o manto brim
O novelo do tempo as asas estendeu
E a beleza dança cavalgando o sem-fim


                                                        
                                                        Vilma Silva