a entidade Eu em mim empurra ossos
e me abre seu clarão a crivo de punhais
grito
a dor óssea do ser
*
passagem
adentro o espelho ¾
esse o lugar onde retorno ao mim
inverso
ali Eu sou
o fogo de Prometeu
Brahma, Olorum
o Tao dos taoístas
*
me resultei parido
do lado de cá
infinitamente Eu
símbolo do que há lá
aqui sou o avatar
o filho de deus
a mensagem ¾
nunca acabo de existir
*
o útero de minha mãe
passagem
à imagem e semelhança de mim
despejado de volta ao mundo
contemplo a luz:
súbita vertigem do ser
*
o muito que nunca cessa de ser ¾
minha mãe sou
eu
em adoidados
múltiplos de mim
e
velejo sozinho
ao lado
entre os
multiplicados Eus
me resultei
Eu ¾
o sozinho
o
Uno
a
Solidão absoluta
Eu
¾
esse único
nós
somos
Sombra
o tempo apagou
sua lanterna
e fosforesce
entre o tecido
breu atemporâneo
murmúrios de
prece entre ¾
exalta em mim
o supremo
desconhecido,
o que me habita
¾
vem vestido no
tecido retrato
do seu rosto
sem rosto
tingido nas
conjunturas
formas da noite
****
eu e o outro
espelhos que se olham...
eu a me olhar de fora
o Eu ad infinitum dentro
em quais existências
mora espelhos dentro
esse ente inverso?
O eu que em mim estando está fora de mim
Em mim vive um Eu
em que se modela minha aparência.
Dele emana os mundos
que me fazem em tecidos de sensações ser.
O seu não-rosto sorri eterno,
pacífico no mar de sua intocável calma
e frequencía as vertigens que me dá a
viver,
longe e imune ao meu torpor humano.
Ele sorri isento – fora da dor:
como representante dela ele a festeja,
como um ente necessário
ele vive eterno.
.
.
.
eu não sou eu
algo em mim é Eu ¾
o outro
o ser definitivo entre ¾
nada lhe pertence
do trágico destino de eu ¾
disso não se ocupa nem se importa ¾
a oculta teia de sua forma
é
nos avessos de tudo que não vejo
eu coisa-mineral
matéria que morre não sou ¾
eu instrumento ao
Eu que trama
me conduz e me expõe
a
essas excentricidades de vida
as mãos pesam sobre a mesa
a mesa na mão
na mão o peso
o gravitado eu
sustenta
o peso do mundo
entre ângulos insuspeitos
o desgravitado Eu
levita sobre a carga do mundo
observa o seu peso:
na mesa a mão
a mão no peso
.
.
.
Habitam-me simultâneos
Eu
e eus
ao
que vou sendo
multi-eus
triangulares
Eus
sujeito e eus objeto,
e
o intermediário:
aquele
que é o Ser
neutro
não
aceita nome
forma
não reconhece:
desinteressado
sua
missão é Ser
o
Ser
. .
. .
Só
.
.
.
.
.
.
.
. .
eis
esse aparecente
que isento do meu querer
ocupa a teia de minha retina
e fala
o tudo que é:
Eu existo
e nunca acabo de existir.
O Eu salta das trevas
onde oculto tece a trama
que eu deponho ignaro no mundo.
O fora escurece
e o dentro ilumina-se
como num palco
em que irão formular-se
os atos do Ser.
Esboços bailam entre luzes
E prefiguram súbito a tez
que no sol dos dias
é forma no escuro incógnita.
.
. .
Tear são meus olhos
luzerna que no clarão do espaço
tece o passar das horas no tempo imóvel
hostes de imagens dentro avesso:
os semblantes do mundo é o meu semblante
tessituras andantes, franjas do ser
espelho em que me vejo:
cenário que deponho ignaro no mundo
. .
.
.
O Eu em mim
empurra ossos e me estica a expansão
esparrama sensações sobre
o primal broto de outros orbes
ao que me sei extenso
desenho de mundo lá fora
labirinto o ser que me habita
estamos infusos um no outro
ambos, criador e criatura,
e existimos
além dos círculos postos
A mesa agarra minha mão
seu peso flui corpo adentro.
Transversal ao tempo
o Eu me alonga mãos
e me arrebata o corpo seu nenhum
.
.
finíssimo minuto se transpõe súbito
caio entre mim e mim
nesse intervalo a sozinhez me alcança
emerge
das sombras Aquele
Eu:
Ele É ¾
vertigem
¾
como dói
e como canta enormes alegrias
o Universo!
esta matéria não é dia,
é noite ¾
sigo por túneis entre escuridade ¾
em meio ao breu cintila
Aquele Eu:
Ele
Sou
e a sozinhez me talha
velejando ao vento
na lonjura erma da terra
onde piso
o Centro do meu Humano
Irremovível
esta absurda consciência de um Eu.
Se me minto
é um eu que se mente...
Solitário em si
no escuro âmbito em que é
Mundo Existente
Eu me Sou.
Eu: sozinho ¾
Eu num Existir indecifrado de Eu
.
.
.
Matéria irrefutável este Eu
na tela do tempo provisório insculpido ¾
na hora da morte
evolatizável
para onde que lugar
habitante do Universo possível.
.
.
.
Minhas mãos pesam sobre a mesa
e povoam o corpo audaz dela ¾
viajante dentro-fora-tempo
no seu exemplar madeira-ser.
Arrebato
num alongar de mãos
a
mesa brancura ¾
habito
o corpo do mundo
Arrebato
meu Eu num alongar de mãos
.
.
.
Estou atemporâneo
dobrado ao ocaso do tempo.
Só ¾
debruço-me sobre
a vertigem do Cosmo.
Todos os planetas arrebato em minha Órbita
e do meu ego subo ao extra-ego
acima do ego além-ego o
não-ego
reverso da sintaxe e do verbo, se expõe a
mim:
nem ódio nem dores
nem tremores sopram,
Só ouço um cochichar de flores
reverberando ao vento.
Minhas mãos pesam sobre a mesa,
irrefutável este eu precário
enredado na teia do tempo ¾
percorro as ruas inacabado,
setas de mim partem e expelem leucócito,
o coração dentro do peito
estala e empurra ossos.
Insondável pote o Eu
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voz
visage
ó
vós
visionary
voz
vaso
voal vagante
voo
do não-ser ao haver
caverna
do verbo ao vago
som
luzido do tudo ser
sopro
do vento sobre
rios
de nada ver
nobre
voz
vento
sobre
o
que o tempo não pode apagar
lá
o
chão luzente onde piso estrelas
Vilma Silva