Verbo
Em fronhas de breus ando a nascitura
Voz entre abas escuras, dobras várias
Onde forjo arpejos, lume que apura
O deus do sopro que me fez seara:
Sou terra antes de me fazer homem
Depois do sopro sou verbo e fonte
Soma da voz e seu adnome
E o lume a mais que se me defronte.
Nada não há em mim senão o arconte
E o facho fugaz na voragem onde
O mundo nasce e morre a todo instante:
Fogo nascituro afinal a fonte
Sopro de vozes no corpo sonante
Fulgor que morre e nasce a todo instante.
Poesia
Peço um poema
para expressar meus passos
sobre este planeta,
calço dos homens
e vida a crescer
roseada
e bela
de estéticas universais
Debruço-me a inventar
a estrutura mágica
onde epigrafar a estética
da
vida
e exponho apressada
as vísceras rodopiantes
de
minhas energias primas
Terei encontrado as estações
d’onde
elas vibram
no decompor das leis humanas?
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A história que ainda não escrevi
(E que não escreverei, por certo)
guardada intacta
na transface de mim
palpita inquieta
em impresenças continuadas
no meu rosto
que não é meu.
Invento a forma
e toda ela guarda
uma ressonância funda
de aléns
O que nela me convida e me congrualiza?
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A imatéria quero trazer
ao
existível
que para ser forçoso é
executar-se por meio da matéria
neste poema
que a falseia embora,
que apenas excogita sombras
do desejo humano,
que apenas se compõe
em simulacro de um original
em perene por-fazer
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A poesia
é
a marca dos meus pés
à beira de mundos incriados,
entre orlas de trevas
grito
ao que não há:
mostra-me o intervalo,
o nulo espaço do teu salto ao que
há!
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o fogo transmigrador
crepita
e treme
no inespacial vórtice
em
que centelhas
são as sentenças
virtuais
da existência.
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Desde a centelha inicial
estala a febre
do
ato adâmico
no sopro e na maçã articulada:
comei
neste fruto a vossa consciência,
bebei
neste sopro o som articulador
do
mundo.
E sossegai
vossos
vórtices convulsos
na materialidade organizada,
espacial
e dada
no sopro da palavra:
criai!
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Obra
Dos
meus dedos o amor surge em palavras:
rendas
de minha arquitetura essencial
que
teço nas infinitas urdiduras
da
imensidão humana que ao meu lado vai
Na
forma dessa vida abraçada
no
escuro das minhas primitivas formas
alçada
me vejo a alturas inumanas
evolada
em piras incendiadas
Os sons
exalam no sopro dentro
as formas
musicais dos mundos
e
fiam em dourados os múltiplos verbos
de
minhas vertigens postas
Nas
palavras dadas ao outro
coadjuvante
meu nesse existir em trama
habita
o meu amor em obra
tecida
nas altitudes humanas
das ausências mortas.
Ora pois,
em curvas e sinuosidades
na tela do meu olhar desenha-se o mundo:
de onde vem a lei e o fundo
o intrínseco ardor do que detrás metade
lhe faz cor, odor, sabor e som rotundo?
Ora, pois
meu trajeto cego
espectros do verbo o cetro,
imóveis decretos
tecem fios de rios disjuntos:
flui de meus olhos incertos
o desenho móbil do mundo.
Feixes
de espectros
(Aos poetas e artesãos do
mundo)
A ti o teu incêndio,
o fogo liquefeito de tua
argila prima –
nave de imagens e
sensações
mais arquétipos de
antigos reinos;
no teu rio de fogo
todos os livros –
os que houve, os que haverá,
letras a se juntarem...
Enfim,
criador e criatura
exalam-se ex utero –
espelhos duplos
a se olharem fundo
infindo
um à imagem e semelhança do
outro:
a duplicidade que
aconteceu
por um desdobrar do ser
Lampejos
a palavra é palavra
a coisa mesma é a coisa
mesma
no escuro âmbito em que é
chama ardente
solitária
no seu em si de si
Se eu a pudesse dizer
ela se identificaria com
a palavra
e ambas seriam uma só.
É pelo exercício da
linguagem que
eu existo!
Poema
As imagens do mundo são
teores
plasmados em minha tela
interna.
Dançam sonâmbulos sons
estes senhores
acrobatas que em si
perfilam
variadas
formas.
Tropeçando os mundos circundantes,
por entrar em veias é que
desnudo o nome
rio fundo onde teço o meu
ser em teias
Sopro
a
vida em mim é verbo
no
sopro das minhas narinas e boca
convertendo
em verbais formas
a
matéria muda do mundo.
Desde
a origem o sopro
inalei
a forma essencial:
do
caos emergi
feito
luz que dissipa trevas.
Em
tecido de palavras sopro
a
verbal essência de mim:
É
meu destino humano
tecer significações
na
forma desverbal do mundo.
Variações ao acordar de mim
.........
adentro
o que sou
Vivo o que sou
liberta do peso da
palavra
eu desconceituada.........
..........
Liberta do pensamento e
do conceito
Sou-me
na pureza de mim em mim –
viver é
não pensar o que se é.........
.........
dentro
o que sou
o que aparece fora
é
sombra de mim.........
.........
Mitos
Carrego
meus mitos
como
fogo que deslumbra
o
tecido fino do meu existir.
E
meu mito é o pensamento
e
a palavra entrelaçados
um
e outro sendo o mesmo
e
um terceiro que é sua obra:
o
mundo, sopro verbal.
POEMA
AO PALAVRÓRIO DA VERDADE E UMA EPÍGRAFE ADJUNTA
A EPÍGRAFE
Quero o dizer,
cavar verbal o fundo abissal do não-dizer
tirá-lo das trevas e do caos e ordená-lo significado
no meu anúncio de palavras.
Depois quero desdizer
inventar novo dizer
e estender no mundo
os infinitos dizeres.
O POEMA
O mundo é discurso,
A palavra é imprestável
à verdade.
Ó,
não há verdade na palavra!
Eis
como exclama a voz moderna
e a pós-moderna também.
Todos
ficam atentos à não-verdade
da palavra,
Todos
precisam se defender da não-verdade
da palavra,
Todos
precisam estar sábios à não-verdade
da palavra,
Todos
ficam apegados à verdade
da não-verdade.
E
eis que sobre os escombros da não-verdade
o mundo arde em chamas de
palavras.
E isso é belo.