terça-feira, 23 de agosto de 2022

Águas Claras

 

Meu rio vai subaquática me Espelhei
Figura líquida a navegar em mim, Sou
Fronteiras entre os eus que me habitam, Sei


O barco humano que na orla vai Me vê
como fantasma de rio a Irreal Figura
sob a pele baça de minhas Águas Turvas


Eu que me sei haver em minhas Águas Claras
O jardim humano em que me Floresço Rosa
Movo em ondas lentas minhas Águas Claras

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Vilma Silva

Quintilhas

 

Barcaça nossa casa
Asas no oásis da paz
Nossa vez seja acesa
Nenhuma esquivez
Ali nunca se fez
                                                 
Se a aridez perpassa
A barcaça alça a graça
Asa de voar abraça
Rigidez nenhuma vez
Altivez somente vês
 
O logro! A aguda adaga  
Traspassa e queima!
O dourado fogo acende
Laça a bonitez em brasa
E a sua infinita graça
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Vilma Silva

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Quadro

 

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No teu olhar meu infinito pousa

Minha rota de amar
Desenham-me tuas mãos.
O corpo infinda obra
Entorna relíquias
Hora santa a relampejar estrelas
A derramar feitiços no chão
 
No meu olhar teu infinito pousa

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Vilma Silva

Levedura

  

Meu silêncio é a levedura do meu verso
E demora a brotar em flor o ardor do belo
Fujo ao mundo e em solitude me converso
Em meu silêncio rasgo véus e te revelo
 
Adormecida exalo o som e a voz se altera
Oração que ao humano teço em epopeia
O meu silêncio abre as portas para o belo
Desse sentir que sob a vida a alma gera
 
Navega o verso em águas planas de mistério
A palavra nomeia o mundo e cria elos
Se meu amor não alcançou mover o amor
Dos meus dedos brota amor em versos belos
 
O corpo humano é um vaso abrasador
Ecoa sons e em meus dedos cria elos

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Vilma Silva


Olhos

 

    Triste
Percorro
     O rosto
Triste
     No
Espelho
 
Aguíferos
     Meus
Olhos
     Chovem
Verso
     Inverso
 
Lagos
     Meus
Olhos
     Vertem
O rio
     Reverso

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Vilma Silva

 

ABREVIATURAS TEMÁTICAS

Vida 

O Tremor
O Respiro
O Grito
O Choro
     Nasce
     A vida

 

Lesma
 
Sarcástico
      O sol
Escorre
      Lêsmica
Luz      
     Fuzilante


A hora
 
Morta
  A hora
    Morta
      Passou
        Morta
          Entre mim
Não Vi

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Vilma Silva

 

 

Cardador

 O plano humano é passar o bojador
aqui reitero eterno o humano criador
sobrevoo o mar alto voo como o condor
de meus dedos flui um fogo abrasador
 
Aéreo e austero cerzidor pondero
Sincero gero o verso livre e me libero
criador ligeiro em voo me faço beija-flor
Passei mil vezes o severo bojador
 
Esse lume azul chama ardente me contém
E ao que me for me dou semente e ardor
Cerzido amor ao que me fiz libero-a-dor
Apenas beija-flor, eu sou o cardador

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Vilma Silva

 AMÉRICA

Ando os rios dessa América esquecida
Envergonhada e submersa em seu torpor
A transitar altiva entre dourados trilhos
Busca o tempo da maturação dos grãos

Vida compelida distraída vida:
Busca o tempo da maturação dos grãos!
Navego nesse mar de águas-vivas
Distraída vida nessa insana lida

E o amor não conseguiu mover o amor:
Essa América submersa em seu torpor
Acordará à maturação dos grãos?

Mergulhada vou nesse oceano vida:
E o amor conseguiu mover o amor?
O que me bastasse não me basta expor

Vilma Silva

 

Brilho de conchas
 
De tão intenso teu olhar me alvejou
Já me inseriu a tua aurora e o teu dia
E te espero lua nua em esplendor
 
Deixe que o silêncio assim nos elabore
A flor do amor em nós já se amoldou
Já me enlaçou em tua aurora e em teu voo,
 
Alga movediça vou em águas fundas
O teu mar mergulhe em mim, tire-me o ar
Te envolverei em tramas a te adornar
 
Meu amor cingiu-se em branco aroma e inunda
O teu mar onde me entrego ao teu amar
Brilho de conchas teus olhos a me olhar


Vilma Silva