segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Os amantes

a fábula da fábula
escrita nos teus dentes...
indecorosos de lascívia
                        teus olhos
exalam a poesia fervente de tuas veias –
entro na fundura da noite a branca noite adentro
 
matas que atravessei... 
teu rosto na distância infinita
ascende no céu da minha noite
pulsa rente à minha pele
 
entro na paisagem de nós
andamos pelas vias do mundo ancestral
colho em teus troncos maçãs e uvas
a água que brota do não-tempo
 
sou tela de céu embebida
no sumo das uvas,
na popa das maçãs
 
a paisagem
vertigem de teu corpo
                             no meu
cheiro e sabores vinhos uvas maçãs
escorro em sumos na tua boca
 
súmula do grande mar vamos
cavalgantes sobre águas
cores e traços riscam a tela do tempo
 
vamos alados
sumimos
transfundidos na paisagem
feita de cores e traços na tela do tempo
 
a floresta abre alas:
da tua boca nascem mundos
figuras desenham em mim
o céu que se abre entre meus dedos
 
teu silêncio grita cheiros
aromas de deuses, hálitos alcoólicos
e mais os sons que teus olhos ecoam
em mim tua voz
atirada dentro minha boca de silêncio
 
o silêncio das chamas,
me chamas
teus ecos ressoam tochas
embebidas no fogo das vestais.
 
****
sou
a que mapeia teu corpo
tua derramada pele
imprimida na minha
estampa tatuada sobre
minhas sedas e cetins
 
dos meus olhos o fogo
despeja semeaduras no silêncio
e me dobro vertical sobre o mundo
abraço-te oceânica e me afogo...
 
me debruço sobre o amanhecer
teu vaso adentra minha água
os cetins fecundam minhas veias

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